COSTA (Maria Velho da).— PORTUGUÊS, TRABALHADOR, DOENTE MENTAL. Seara Nova. 1976. [Lisboa]. In-8.º de 166-II págs. B.
Trabalho realizado por Maria Velho da Costa enquanto funcionária pública do Ministério da Indústria e Tecnologia, a trabalhadores da Indústria submetidos ao foro do Ministério da Saúde como doentes mentais. Assim foram reunidas neste volume 6 entrevistas realizadas entre 1972 e 1974 no âmbito do Curso de Grupo-Análise da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria a doentes internado no Hospital Miguel Bombarda.
“Servirá este trabalho para dar sinal, embora sem rigor, do imenso teor de ambiguidade e absurdo de instituições ratificadas pelo sistema legal aparentemente razoável por que somos regidos. Tal não era o meu objectivo ao iniciá-lo e não duvido que ele não se me teria tornado tão aparente, não fora eu definindo-me cada vez mais (por tentativa e erro) como membro dessa casta um pouco à margem de toda a institucionalização — produtor perplexo que ainda que viva bem não vive do seu trabalho específico — o escritor português (…)”.
Nota final: “Os internados vitaliciamente que inspiram estes textos, os literários, ainda não expiraram. Estão lá. Nem todos eram trabalhadores da indústria. Não (me) diziam exactamente o que aqui transcrevo do que eles me diziam. E devo eu dizer que os ouvi durante as horas de serviço e que não era para isso que era paga. Devo dizer que foram escritos em cima da bancada de mármore onde todos eles comem uma refeição inteira (às vezes intacata, que os tranquilizantes cortam muito o apetite a quem já teve fome antes de entrar para lá) comida cim uma mesma colher de zinco (com os garfos podem arrancar-se olhos, ali).
“Exponho esta «clandestinidade» em honra de todos aqueles que desejariam que a função pública fosse outra coisa. Em honra de todos aqueles que, confrontados com instituições e legalidades absurdas, se passam honradamente para o ouytro lado, o da luta aculta. (…)”.
Obra integrada na colecção «Temas Actuais».
Exemplar com alguma sujidade e pequena assinatura de posse na folha de guarda.