AS VERDADEIRAS BERNARDICES, QUE PELA PRIMEIRA VEZ SÁEM Á LUZ PÚBLICA; colligidas e ordenadas pelo Dor Nada-lh’escapa, seguidas das Bernardices Vulgarizadas ás principaes classes da Sociedade e das Anti-Bernardices, ou Collecção Curiosa de ditos avisados, lembranças felizes, e repentes engenhosos. […]. Pariz, Em Casa de J.-P. Aillaud. 1841. [Imp. de Beaulé, Rue François Miron, 6]. In-8.º de 254-II págs. E.
Inocêncio refere algumas publicações congéneres no ‘Dicionário Bibliográfico Português’ [Tomo VII, págs. 41], dando nota que “De todas a mais abundante é a que se publicou em Paris por industria do livreiro-editor João Pedro Aillaud, servindo de texto uma das muitas copias manuscriptas, que giravam pelas mãos dos curiosos desde o meiado do seculo passado, e addicionando-se-lhe outras de data mais recente. O titulo geral posto á frente da collecção é como se segue: ‘As verdadeiras bernardices, que pela primeira vez sáem à luz publica, colligidas e ordenadas pelo’ doutor Nada lh’escapa. ‘Seguidas das «Bernardices vulgarisadas ás principaes classes da sociedade» e das ‘Anti-bernardices’, ou collecção curiosa de ditos avisados, lembranças felizes e repentes engenhosos’. Paris, na Imp. de Beaulé 1841. […]. E a pag. 9 vem transcripto por extenso o titulo da primitiva collecção comprehendida n’este volume, que diz assim: «Minudencias bernardicas da elegancia claravalica, lavaredas do engenho, brazinhas da habilidade, faiscas do juizi, cagalumes da discrição, ou luzelumes do discurso, que não quero dizer,pyrilampos pequenos da cachimonia, bocados do entendimento, migalhas do miolo, pingos do cerebro, e partes do craneo: que dedica e consagra aos reverendissimos padres bernardos o bacharel «Nada lhe escapa.»”
Desta edição transcrevemos parcialmente a «Advertencia do Editor»: “Varias edições se tem feito de Bernardices; porèm as verdadeiras Bernardices aïnda jazião escondidas entre os manuscritos dos Amadores d’este genero de litteratura, e agora é a vez primeira que apparecem á luz publica. Forão ellas colligidas e escritas, segundo noticias [que] temos, pelo Doutor NADA-LH’ESCAPA, durante o reinado d’El Rei D. João V, tempo de paz, de prosperidade e de riqueza, em que os animos mais ociosos que applicados, e totalmente izentos de dissenções e discordias, só se occupavão de diversões e facecias; mas nunca podérão imprimir-se, pela razão bem sabida das leis da Censura, que vedavão toda a sorte de personalidade, maiormente contra uma Corporação como a dos Reverendissimos Bernardos: contentavão-se os curiosos de as mandarem copiar, de as ter como cousa preciosa entre seus manuscritos, e muitas vezes os velhos de bom gosto fazião sua leitura em voz alta, ao canto da chaminé, nas longas noites d’inverno, interrompendo-a de quando em quando para dar lugar aos applausos dos circumstantes, que com gargalhadas de riso celebravão as sandices Bernardicas. Não erão mui frequentes as copias, que os nossos velhos erão mui ciosos, e não as fiavão de todos, querião só elles fazer uso d’ellas, e fazião-se muito de rogar em concederem licença para se trasladarem […].”
Encadernação da época, com a lombada de pele.