RAYNOUARD (François Juste Marie) [Trad. VERDIER (Timóteo Lecussan)].- VERSION PORTUGAISE DE L’ODE A CAMOENS DE M. RAYNOUARD, (…). Avec des Notes, etc. du traducteur. — A Paris, de L’Imprimerie de H. Fournier, rue de Clèry, n.º 9. — M DCCC XXV. In-8.º de 59-I págs. B.
Innocêncio regista este opúsculo em nome de Timotheo Lecussan Verdier, natural de Lisboa, de quem faz extensa introdução biográfica, dizendo: “(…) O pouquissimo que possuimos impresso de Timotheo Lecussan Verdier, e o muito que sabemos da sua erudição e apurado gosto, apregoados por todos que o conheceram, e patentes n’estas amostras que nos deixou, têem sido para os que deveras prezam a litteratura nacional, causas de magoado pezar, lastimando-se de que um tão insigne philologo fosse de tal modo inacessivel ás seducções da gloria, e tão avaro de communicar aos conterraneos os thesouros do seu saber, que não se resolvesse a repartir com elles o que bem podéra dar-lhes sem desfalque, antes com honrosa fama e credito do proprio nome, que assim eternizaria aos olhos da posteridade. (…)”. Relativamente ao opúsculo que agora apresentamos, considerado pelo mesmo bibliógrafo raríssimo e publicado sem o nome do autor diz: “É dedicada pelo traductor (que aqui se declara não ser poeta, nem portuguez) ao proprio auctor da ode, mr. Raynouard. Depois da dedicatória vem a ode original com a traducção parallela em egual numero de versos portuguezes, e finda na pag. 25 — Segue-se novamente a versão portugueza interlineada por outra versão latina, e em frente uma exposição litteral dos versos portuguezes em prosa franceza, acompanhada de curiosas notas criticas e philologicas, que chegam até a pág. 59. A traducção portuguesa simplesmente, acompanhada das notas philologicas (não todas) foi no mesmo anno reimpressa em Lisboa por diligencia de Heliodoro Jacinto de Araujo Carneiro, e sahiu juntamente com as outras versões da referida ode por Francisco Manuel e Vicente Pedro Nolasco, etc. (…).
Da atribulada vida de Lecussan Verdier diz Inocêncio: “A sua decidida predilecção pela litteratura não o embaraçava comtudo da gerencia dos negocios mercantis, e de promover com emprezas industriaes de maior alcance o augmento da fortuna que de seus paes herdára, visando ao mesmo tempo á prosperidade da terra em que nascêra, e que olhava como verdadeira patria, posto que nunca tractasse de naturalizar-se formalmente como portuguez. Foi elle que conjunctamente com outro benemerito estrangeiro, Jacome Ratton (…), fundou em 1788 na villa, hoje cidade de Thomar, aquella magnifica fabrica de fiação e tecidos de algodão, a primeira obra d’este genero mais bem acabada e perfeita que até então se vira em Portugal, (…). Sobrevindo porém a invasão franceza em 1807, ou porque em verdade elle tomasse nas intrigas politicas do tempo a parte que lhe attribue José Accursio das Neves (…), ou porque sem culpa propria, como affirmam outros (dizendo que até estivera preso por ordem de Junot como suspeito de ser mais fiel á causa de Portugal que á de França) se achasse depois da restauração comprehendido na animadversão geralmente manifestada contra tudo o que havia sangue francez, o facto é ter sido preso por ordem da Regencia (…), e com outros individuos expulso do reino, sem processo ou sentença condemnatoria, por decreto da mesma Regencia (…). Passou-se então para Tanger (…). D’alli sahiu depois para França, onde se conservou muitos annos, amargurados por ver a sua fortuna quasi perdida pela sua ausencia, e a fabrica de Thomar arruinada (…). Enfim, condescendendo com os rogos de seus amigos e familia, resolveu-se a voltar a Portugal, demorando-se ainda em Londres alguns mezes, e chegando a Lisboa nos ultimos de 1825. Aqui veio soffrer novos desgostos, tendo de presenciar o desbarato que havia padecido toda a sua fazenda, e a impossibilidade de restaurar o que perdêra. (…). Foi Socio da Academia Real das Sciencias de Lisboa, em cuja fundação se diz tivera parte, e Membro correspondente do Instituto de França. (…)”.
Capa da brochura não impressa, tendo ao alto, manuscrito: “Al sg.r Fr. Fran.co de S. Luiz. Evêque titulaire de Coimbra.”