CATÁLOGO DE LIVROS ANTIGOS E MODERNOS, CURIOSOS, ESTIMADOS E RAROS, QUE CONSTITUEM BOA PARTE DO RECHEIO DA BIBLIOTECA DE DELFIM GUIMARÃES. Com Prefácio do distinto académico senhos Albino Jorjaz de Sampaio. Esta Biblioteca será vendida em leilão promovido pela Livraria Moraes na Casa Liquidadora (Antigo Bazar Catolico), em Maio de 1929. […]. Livraria Moraes de João d’Araujo Moraes, Lda. Lisboa. [1929]. In-4.º de X-171-III págs. B.
“Vende-se hoje em leilão a livraria particular de Delfim Guimarães. O escriptor decidiu separar-se da maioria dos seus amigos e passar a novos estudiosos a ferramenta que, em suas habeis e robustas mãos, o ajudou a erguer a sua obra, que é a de um poligrafo cheio de talento, a de um escriptor cheio de senso artistico, a de um erudito pleno de erudição. Na obra de Delfim Guimarães ha volumes de poesia, romances, theatro, revisão e publicação de classicos, critica e historia litteraria, cabendo-lhe n’esta ultima uma tão nova, como arrojada mas sensata, hypothese sobre Bernardim Ribeiro r Christovão Falcão. Em todas estas provincias da aptidão litteraria elle foi illustre. Em todos os generos elle deixará um nome que nas gerações vindoras não será pronunciado sem respeito, como de pessoa que muito quiz á sua profissão e muito amou a sua patria. São livros que não faltam nas boas livrarias a sua ‘Alma portugueza’, obra magnifica de evocação e poesia, o seu ‘Rosquedo’, romance regional de fina observação e natural entrecho, a sua interpretação poetica da ‘Paixão de Soror Marianna’, e a sua versão em maravilhosos versos portuguezes das ‘Flores do mal’, d’esse sombrio e suggestivo, originalissimo Baudelaire.Também não faltam os seus ‘Bernardim Ribeiro’ e ‘Theophilo Braga e a lenda do Crisfal’ que tanta celeuma e tantas controversia e admiração levantaram entre nós e no Brazil, e lhe deram na Historia da litteratura patria um nome tão considerado como discutido. A publicação do seu ‘Arquivo Literario’ mostra o seu saber, diz-nos alguma cousa da predilecção dos seus estudos, da segurança e exactidão do seu trabalho. Sem a sua livraria, esta mesma livraria que hoje se vende, a sua obra sobre os grandes poetas quinhentistas não seria possivel, e os seus estudos não seriam prestaveis. Por ela se vê, porque uma livraria é o trem de equipagem d’esse exercito de ideias em marcha que o escriptor representa, de que valiosos elementos dispunha para o ataque, para a defeza, para a demonstração. Livraria modelo da livraria de um erudito do nosso tempo, erudito de estudos litterarios portuguezes do seculo aureo de quinhentos, ella é, na harmonia do seu conjuncto, na combinação da sua massa estructural, pena que se disperse, mais devendo constituir o fundo de bibliotheca de uma Academia, de uma agremiação de Eruditos, de uma residencia de estudantes, porque raras vezes se encontram reunidas tantas, tão valiosas e tão diversas peças, que só quem precisa de as ter á mão sabe quanto representam. Mas se por um lado é pena que entre nós tal se não consiga, por outro bom é, porque ao amoroso cuidado de Delfim Guimarães se deve o poder o martello do leiloeiro descer sobre coisas tão boas, semeando um pouco aquella felicidade de alcançar, que é o esqueleto, nervos, musculos, veias e tendões, alma, movimento, querer, vida emfim de todo o fiel bibliofilo. […]”.
Com vestígios de acidez e defeitos na capa da brochura.