Título ao centro: MANUSCRITO COM INTERESSE PARA A HISTÓRIA DO HOSPITAL REAL DE S. PAULO.
CASTRO (D. Francisco de Almeida de Melo e).— CÓPIA MANUSCRITA DE UMA EXPOSIÇÃO AO PRÍNCIPE REGENTE A FAVOR DO PRESO DE ESTADO ANTÓNIO DE ALMEIDA, CIRURGIÃO E LENTE DE ANATOMIA E DE OPERAÇÕES CIRURGICAS DO HOSPITAL REAL DE S. PAULO. [Dim. aprox.] 20 x 30,5 cm.
D. Francisco de Almeida de Melo e Castro foi Enfermeiro-mor, tesoureiro e Executor da Fazenda do Hospital Real de S. Paulo e nessa qualidade faz a presente Exposição ao Príncipe Regente a favor do "Prezo d’Estado" António de Almeida, "Cirurgiaõ, e unico Lente de Anathomia pratica, e de Operações Cirurgicas do m.mo Hosp.al, que se acha no desagrado, e indignaçaõ de V. A. Real; e som.te nesta esperança, e Epoteze se rezolve por bem da Humanidade, e dos mizeraveis Enfermos, e beneficio do d.to Hosp.al, a expôr na Real Prezença as razois" que depois expõe.
"Q.do entrei, Soberano Senhor, na Adm.aõ do dº Hosp.al, o achei em todas as suas Repartições, e Classes, hum montaõ de ruinas, e hum sinedrio de malfeitores, q. á excepçaõ de alguns poucos Homens de probid.e, se derao as maons pª os roubos e crueldades. Entre os individuos q. se me aprezentaraõ, e q. logo reconheci honrado, inteligente e zellozo foi o sobred.º infelis Antonio de Almeida, o qual me instruio de todas as noçoens precizas pª huma reforma saudavel, a q. tenho dado principio, apezar de mil oppozições, e votos de alguns Professores, e Operarios, deametralm.e oppostos. Deo isto motivo, a q. todos se conspirassem publica, e particularm. contra o dº Antº de Alm.da; que elles suppozeraõ o unico cauzador da indispensavel reforma do dº Hosp.al, e por isso cheios de vingança, e odio, naõ tem perdoado por si, e por outros a qualquer perfidia, e trama pª o perderem, e desviarem pª sempre do dº Hosp.al.
"Devo acrescentar, q este Facultativo q.to á sua Arte, e Profissaõ he o unico Lente de Anatomia Pratica, e de Operaççoins de novos inventos, em q. se fes eminente nas Viagens q. fez fora do Reino; sendo por isso m.º util, e necessario ao dº Hosp.al, e aos mizeraveis Enfermos, q. tem direito sagrado á conservaçaõ das suas vidas. E q.to á sua vida Civil tenho d’elle conhecim.º e trato há m.os annos; sempre o reputei hum Vassallo, e Cidadaõ Leal, e obediente ás Leis de V. A. Real, e amante da Patria, e da Cauza Publica, sem q. já mais contra elle tivesse a minima suspeita em taõ Largos tempos (…)
"Saõ estas, Augustissimo Senhor, as unicas razoins q. me moveraõ a expor-me na Real Prezença, a favor d’aquelle Desgraçado, persuadido da sua innocencia; pois q. se presumisse o contrario, eu seria o primeiro Delator das suas maldades. (…) Comtudo se esse Miseravel commetteo algum erro por leveza e inconsideraçaõ, q. os d.os seus Innemigos, e Emulos ou forjáraõ, ou amplificaraõ, parece q. na Real Prezença deve merecer alguma compaixaõ, já por q. se naõ deve absolutam. perder hu Professor insigne e de novos inventos, util, e necessario ao Estado, e já porq. he da Suprema Grandeza, Alta Clemencia dos summos Imperantes desprezar levezas, compadecer-se de Loucuras, e perdoar mizerias, attendendo á qualid.de das Pessoas, como escreveraõ os Imperadores Theodozio, Arcadio, e Honorio (…)"