AS // ‘NOITES’ // DO // BARRACÃO. // PASSÁDAS PELOS EMIGRADOS // ‘PORTUGUEZ’ // EM // INGLATERRA. // ‘EM VERSO ALEXANDRINO.’ // [pequena vinheta de composição tipográfica] // PARIS. // NA OFFICINA DE J. P. AILLAUD. // 1834. In-4.º peq. de 36-[II] [dim. aprox. 8×13 cm.] págs. B.
Interessantíssimo e extremamente raro opúsculo, com interesse para a bibliografia relativa aos ‘Emigrantes liberais em Inglatera’.
Impressionante documento onde se descrevem as privações e vexames a que os liberais emigrados estiveram sujeitos por parte das autoridades inglesas, após a malograda revolução liberal de 1828 [Belfestada].
A propósito, recorda Gomes de Amorim nas ‘Memórias Biográficas’ de Garrett [Tomo I, págs. 451/452]: “Formou-se em Plymouth o deposito dos emigrados que foram do Porto embarcar no Ferrol e na Corunha. A direcção superior d’elle foi dada a Candido José Xavier. Este homem, que servira no exercito de Napoleão e recebêra dos seus soldados d’esse tempo a alcunha de — ‘Pernas de Egua’ — por as ter muito compridas, não possuia sympathias (…). Com rasão ou sem ella, censuraram-n’o, e ainda hoje o accusam, de ter sido odiosamente injusto, no modo por que repartia os subsidios. Os seus amigos e protegidos recebiam larga fatia do pão commum, que chorado e escassamente se dava aos outros. (…). Esta desigualdade deu origem ás celebres ‘Noites do Barracão’, ao ‘Chicote’, e a outras muitas satyras, em verso e prosa, em que se desafogavam as justas queixas dos que, tendo maiores serviços, eram, como sempre acontece, os menos considerados. Parte dos versos mais graciosamente apimentados attribuiram-se ao academico, hoje conselheiro, Bartholomeu dos Martyres, a quem accusavam de primar n’esse genero poetico. Affirma elle, porém, que não collaborou n’elles, confessando, todavia, ter feito outros do mesmo genero.”
Informa Inocêncio que apesar das indicações impressas no frontispício: “ (…) ha quem sustente que estas ‘Noites’ foram clandestinamente impressas em Angra no referido anno. E com effeito, os caracteres da impressão, e as imperfeições typographicas que abundam no folheto, acreditam de verdadeira tal opinião. O typo é o chamado italico, ou ‘grifo’.
“Raramente apparece hoje de venda algum exemplar d’este opusculo. As seis poesias satyricas n’elle incluidas sob o titulo ‘Noites’, foram, como tantos nutros papeis, uma especie de desafogo dos voluntarios academicos, por occasião das privações e maus tractos que tiveram de soffrer no deposito de Plymouth. (…).
“Das referidas ‘Noites’ uma, que se acha a pag. 23 e seguintes foi, segundo se affirma, escripta pelo sr. Simão José da Luz Soriano, e outras tiveram por auctor Joaquim Pinheiro [das] Chagas, então voluntario academico, (…).
Ernesto do Canto acrescenta no «Ensaio Bibliographico» os nomes de Bartholomeu dos Martyres Dias e José Custodio da Costa Louraça como colaboradores, continuando: “O Dr. Candido José de Moraes, Juiz da Relação dos Açores, reformado e academico emigrado em Plymouth, dizia que o impressor foi Joaquim José Soares, emigrado, natural de Coimbra e que n’aquella cidade fora caixeiro de um livreiro, e depois estabeleceo uma typographia em Angra.(…).”
Exemplar com as capas da brochura originais [não impressas] e com as margens intactas.