MACEDO (Padre José Agostinho de).— O ORIENTE. Poema de… Lisboa: Na Impressão Regia. Anno 1814. 2 vols. In-8.º de 247-I e 238-II págs. E. em 1 vol.
Trata-se da edição original deste muito polémico poema, ilustrada com duas belas gravuras abertas a buril com os retratos de Agostinho de Macedo e de Vasco da Gama, o primeiro da autoria de Domingos José da Silva, o segundo de José Joaquim Lopes.
A propósito do retrato de Macedo [subsituído na segunda edição], Ernesto Soares diz na «História da Gravura Artística em Portugal»: “(…) Sôbre êste retrato e seus executores lança grossa diatribe o inimigo figadal do Padre Macedo, Pato Moniz, na sua ‘Agostinheida’, ao mesmo tempo que nos fornece interessantes notas biográficas caricaturais sôbre o pintor e gravador. (…)
Nas «Memórias para a Vida Intima de José Agostinho de Macedo» diz Inocêncio: “ (…) Muitos annos havia, (…) que José Agostinho se dera à composição de um poema épico, com o qual se propunha nada menos que a obscurecer a Gloria do inclito cantor dos ‘Lusiadas’: que supposto em varias partes de seus escriptos, e com especialidade no prologo do (…) poema ‘Gama’ elle pretenda negar que jámais lhe passasse pela idea a intenção de ‘emendar Camões’, forcejando por apoiar sua negativa em palavrosas declamações e sophisticos argumentos, todavia é quanto a nós evidente, que quem vae buscar um assumpto epico tratado por outros auctores, para de novo apresentar trajado à sua feição, é porque se não dá por satisfeito com a existente e se persuade ser capaz de melhorar o já feito. Este era precisamente o caso em que José Agostinho se collocava escrevendo um novo poema sobre o mesmo argumento dos ‘Lusiadas’; mostrava por um modo bem claro, que não suppunha aquelle assumpto tratado como cumpria: e se não era para o fazer melhor que vinha então cá buscar com sua nova producção? (…). Expostos assim os termos da questão, vê-se que com legítimo e asisado fundamento lhe attribuiram seus contendores o propósito de emendar o grande vate portuguez: e assentado isto, ninguem ousará negar que José Agostinho de Macedo havia mister uma dose demasiada de amor proprio, e mui erronea consciencia de suas forças poeticas para aventurar-se a tão temeraria empreza com esperanças de bom exito; muito mais se repararmos no modo como ella foi concebida, e primeiro executada; pois também é inquestionavel que pelo tempo adeante elle foi polindo, augmentando e melhorando a sua composição; e que esta depois de transformada de ‘Gama’ em ‘Oriente’, correcta e levada ao maior gráo de apuro que seu auctor soube dar-lhe, deveria ser de justiça tida como um bom poema, superior a muitos que entre nós correm com estima e apreço publico, se não houvesse o attentado ou culpa original que presidiu á sua concepção, isto é, persuadir-se o poeta de que com aquella obra, por mais que em sua composição se esmerasse, podia contrabalançar e vencer a fama de Camões, derribando este immortal varão do logar que lhe estva assignado pelos suffragios quasi universaes de nacionaes e extranhos!. (…)”
“(…) o ‘Oriente’ seria de justiça reputado um bom e methodico poema classico, se não existissem os ‘Lusiadas’. A sua aparição pois, e sobretudo a do Discurso preliminar que n’esta edição o precedia [retirado nas edições que se seguiram], despertou os animos ainda mal convalescidos das ultimas pelejas e para logo sôou um novo grito de Guerra contra o emulo de ‘Camões’. Varias criticas se publicaram impressas e outras se conservaram manuscriptas (…)”; ‘Pato Moniz’, tomando como os demais a peito vindicar a Gloria do illustre vate no Discurso preliminar do ‘Oriente’ se via aggredido por modo mais que muito insolito e despropositado, sahiu-se com um arrazoado volume a que deu o nome de ‘Exame analytico e parallelo do Oriente com a Lusiada’, (…) que foi sem contradicção o mais bem lançado de todos os escriptos então publicados contra José Agostinho (…)”.
Encadernações da época inteiras de pele, decoradas com rótulo e gravações com ferros a ouro.