PARNASO LUSITANO ou Poesias Selectas dos auctores portuguezes antigos e modernos, illustradas com notas. Precedido de huma historia abreviada da Lingua e Poesia Portugueza. Paris. Em Casa de J. P. Aillaud. MDCCCXXVI-MDCCCXXXIV. 6 vols. In-8.º peq. de VIII-CXXXIV-II-284; IV-460; IV-467-[I]; IV-447-[I]; IV-456-II e IV-313-[I] págs. E.
No ‘Dicionário Bibliográfico Português’ Inocêncio dedica algumas páginas na minuciosa descrição desta interessante e rara ‘antologia’: “O academico francez Mr. Raynouard, ao dar conta d’esta publicação em um dos numeros do ‘Journal des Savans’ do anno 1829, falou d’ella com louvor, como de obra que desempenhava condignamente o seu assumpto. A opinião corrente por aquelle tempo attribuiu a Garrett a escolha e disposição das peças contidas na collecção, e até as observações e notas que as acompanham. Creio que essa opinião chegou tradicionalmente aos ouvidos de muitos que estão ainda hoje persuadidos, sem attentarem nas declarações e protestos do proprio Garrett, que por mais de uma vez, e com energia intimativa, negou ser sua aquella coordenação, repellindo para longe de si a paternidade, como injuriosa á sua fama. Por serem hoje mui raros os exemplares do ‘Tractado de Educação’, por elle publicado em Londres (…), transcreverei aqui as suas palavras, assás explicitas e cathegoricas a esse proposito; embhora [sic] não me pareça de todo justo e fundado em boa razão o conceito que apresenta ácerca do ‘Parnaso’, antes seja para mim fóra de duvida que indisposições particulares, ou queixas de resentimento pessoal, ainda não bem averiguadas, influiram poderosamente no seu animo, a ponto de lhe inspirarem as phrases de desfavor exagerado, em que a obra é maltractada e exposta á irrisão publica.
“Vai pois o trecho alludido.
“«Já em outra parte protestei que nada meu tinha no ‘Parnaso Lusitano’, que publicou o sr. Aillaud livreiro em Paris, senão o resumo da historia litteraria de Portugal, que vem no principio do primeiro tomo d’aquella collecção. É certo que arranjei o systema e plano da obra, que escolhi os auctores e peças; mas ausentando-me de Paris antes de completada a impressão do primeiro volume, um homem por nome Fonseca, a quem da minha algibeira paguei para rever as provas, tomou a liberdade de alterar tudo, introduzindo na collecção producções ridiculas de gente desconhecida, e que eu nunca vira, omittindo muitas das que eu escolhêra, enxovalhando tudo com notas pueris e indecentes, errando vergonhosamente até o indice de materias que eu preparára para cada volume, e introduzindo uma orthographia gallega, que faz rir a gente, e que está em contradicção com as regras que eu na prefacção estabelecêra…. (…) (Trat. da Educação, pag. IV, ‘nota’.)”.
“Como os exemplares do ‘Parnaso’ não são muito vulgares, persuado-me de que será de alguma utilidade (…) acharem aqui em fórma de indice ou resenha a indicação de todas as peças e trechos poeticos, que entraram n’aquella collecção. (…)”.
Adverte ainda Inocêncio, que “Em 1834 publicou o mesmo editor J. P. Aillaud um tomo VI, impresso na Typ. de Casimir (…) com o título seguinte: ‘Satyricos portuguezes (…)’. Contém os poemas ‘Hyssope’ (com uma estampa), pag. 1 a 137: — ‘Reino da Estupidez’, pag. 139 a 197. — ‘Os Burros ou o reinado da Sandice’, pag. 198 a 379. — Das notas, aliás de pouca valia, foi auctor, segundo se diz José da Fonseca. Reconhecendo depois que o poema ‘Os Burros’, embhora mui diverso na contextura e phrase do que sahira das mãos de José Agostinho, era por suas obscenidades improprio para figurar em similhante collecção, o editor mais bem aconselhado o expungiu do volume, substituindo-o pelas ‘Satyras’ de Nicolau Tolentino, que falando verdade, mal-condizem com o rosto ou frontispicio. Apparecem, pois, exemplares de uma e d’outra fórma.”.
O exemplar que descrevemos é da variante que omite o ‘Poema’ de José Agostinho de Macedo, substituindo-o pelas ‘Satyras’ de Tolentino de Almeida, não ostentando a estampa referida por Inocêncio que ilustra o ‘Hyssope’.
Encadernações inteiras em pele, da época, com pequenos defeitos. Com o corte das folhas marmoraeado. Pequeno restauro antigo, no canto inferior esquerdo dos frontispício e anterrosto do primeiro volume. Ao V volume falta o anterosto.